História Relatada pelo Agente Comunitária de Saúde Valéria de Oliveira
Hoje, a nossa Clínica da Família continua com a série de relatos sobre as histórias dos maiores beneficiados da nossa unidade: Os Cadastrados. E para começar essa série de relatos, nada melhor do que uma história de conscientização e superação;
Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí,
Pra te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor,
Eu só quero amar você,
E quando amanhecer eu quero acordar
Do seu lado.
Pra te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor,
Eu só quero amar você,
E quando amanhecer eu quero acordar
Do seu lado.
Hoje quero compartilhar aqui uma linda história de amor, fé e superação: a história da minha querida cadastrada Mirian e da família dela. Vou deixá-la contar com as palavras dela, palavras com que escreveu um texto emocionante. É maravilhoso poder compartilhar de perto essa vitória e poder acreditar no ser humano. Também tenho certeza que esse exemplo vai ajudar muitas pessoas a irem em frente, a seguirem sua intuição e a agirem com amor
Oie! Sou a Mirian,
tenho 27 anos, casada com o Luiz Cláudio e mãe de uma linda menina de um ano e 7
meses, a Flavia. Quando a Valéria, minha agente, comentou de escrever a minha
história por aqui fiquei super feliz e nervosa ao mesmo tempo. Mas acho que a
minha experiência pode ajudar muitas mamães, então achei muito importante
compartilhar.
Vou escrever mais de um milhão de canções para você ouvir
Que meu amor é teu, teu sorriso me faz sorrir,
Vou de Marte até a Lua, cê sabe já tou na tua,
Não cabe tanta saudade essa verdade nua e crua,
Flávia nasceu no dia seis de junho de 2011,
em um parto LINDO, emocionante, depois de uma gravidez maravilhosa e muito
desejada, acompanhada na Clínica da família, com o pré natal em dia e as
visitas realizadas pela minha agente mensalmente, na qual aproveitei cada
segundo e cada chute da minha pequena. Nasceu super saudável, tomou banho de
luz por um dia, e fomos para casa.
Sempre foi MUITO boazinha…acho que só a
ouvimos chorar pela primeira com 2 ou 3 meses. Dormiu a noite toda desde o
primeiro mês e mamou no peito exclusivo até 6 meses. Atingiu todos os marcos de
desenvolvimento até, mais ou menos, 8 meses.
Eu sei o que eu faço, nosso caminho eu traço,
Um casal fora da lei ocupando o mesmo espaço,
Se eu to contigo não ligo se o sol não aparecer,
É que não faz sentido caminhar sem dar a mão pra você,
Na consulta do 8º mês, falei com o médico
da minha equipe sobre uns movimentos repetitivos que ela apresentava nos pés.
Algo me dizia que era neurológico, e meu médico pediu para observar por um mês
e ver quando ela fazia esses movimentos.
Seguimos nossa vida, sempre recebendo a
nossa agente na nossa residência, acompanhada em horas da Técnica de
Enfermagem, oras do Enfermeiro, oras sozinha. E, em março, fomos passar um
feriado na fazenda de uma amiga querida. No domingo, chegamos em casa e, como
todo fim de semana, peguei a uma revista para ler depois que a Flávia dormiu.
E, nesse momento, senti um frio na espinha que jamais vou esquecer. Estava
lendo uma reportagem sobre autismo, e sobre a importância do diagnóstico e
intervenção precoce.
Minha filha tinha TODOS os sintomas
apresentados na reportagem, TODOS! Nunca fez contato visual ao mamar,
apresentava movimentos repetitivos com os pés, não dava tchau, não mandava
beijos e não apontava aos 9 meses, ficava muito tempo concentrada em um detalhe
de um brinquedo, não respondia ao nome, e não esboçava nenhuma reação quando eu
ou o pai voltávamos do trabalho. Era tão quieta que muitas pessoas falavam:
“nossa, mas ela é tão boazinha, brinca sozinha, acho que não é normal!“
Na
hora, fui falar com meu marido que, de primeira, achou que eu era louca. Aí, li
os sintomas e lembro da mudança na feição dele… Falei com o médico e ele, imediatamente,
me encaminhou para um neuro e um psiquiatra.
Teu sonho impossível vai ser realidade,
Sei que o mundo tá terrível mas não vai ser a maldade que
Vai me tirar de você, eu faço você ver,
Para tu sorrir eu faço o mundo inteiro saber que eu...
Foi aí que as lágrimas começaram a escorrer
sem parar. Aquilo era real, não era uma “nóia de mãe.” Em meio às lágrimas,
entrei na Internet e comecei a pesquisar loucamente, e rapidamente em lembrei
da minha agente comunitária, que sempre vinha na minha casa e poderia me dar
uma ajuda, um apoio, uma palavra amiga. Esperei ela chegar na minha casa e a
recebi chorando, pedindo para entender um pouco mais disso tudo. E ela, sempre
muito dócil e gentil, acalmou meu
coração, falou que tudo ia dar certo. Na segunda-feira cedo, fui trabalhar, mas
a cada meia hora, me levantava para ir no banheiro chorar. Não entendia direito
o que estava acontecendo, uma avalanche de sentimentos, dúvidas, e medo, muito
medo, e muita insegurança. E, nesse período, meus pais estavam viajando, e
mesmo de longe tentaram me dar toda a força do mundo.
Chegou o dia da consulta e fui com um nó na
garganta. O neuro examinou, brincou, chamou e, no final, pediu para tirarmos a Flavia
da sala para conversar conosco. A conversa foi mais ou menos assim: “Mãe, se fosse minha filha eu colocaria na
terapia JÁ. Ela tem, sim, alguns sintomas. Quanto mais precoce for a
intervenção, melhor será a evolução. E, se ela não tiver nada, mal não vai
fazer.” Nessa hora, eu não sabia se
chorava mais, se perguntava um milhão de coisas, se saía correndo da sala para
agarrar minha pequena… No fim, nem me
lembrei das MILHARES de perguntas que tinha para fazer .
Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí
E para te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor
Eu só quero amar você
E quando amanhecer eu quero acordar
Do seu lado
Perguntei sobre o futuro. SE ela estivesse no espectro, como seria o
futuro? Ela seria feliz? E a resposta foi: “Não sei te dizer. Cada criança é diferente, e a evolução de cada uma
delas é diferente também.” E foi aí
que percebi que o mais difícil de TODA essa caminhada seria a incerteza. Ainda mais para mim, que sou uma pessoa super
ansiosa, prática, que gosta de planejar tudo.
No mesmo dia, liguei e agendei a avaliação
com a terapeuta para aquela semana. A Flavia iniciou aos 9 meses. As terapeutas
foram MARAVILHOSAS, sempre muito carinhosas, e fazíamos reuniões para falar da
evolução da Flávia e entender melhor como podíamos colaborar em casa. E mesmo
assim eu continuei a acompanhar na clinica da família e com a minha agente
visitando. E, dia a dia, percebemos a
evolução. O primeiro sinal – e mais marcante para mim – foi que os movimentos
estereotipados pararam. Aos poucos, foram diminuindo e, um dia, percebi que ela
não fazia mais! Ao longo dos meses, a melhora foi incrível, e a cada dia que
passava eu ficava mais ansiosa pelo retorno ao neuro.
Para ter o teu sorriso descubro o paraíso
É só eu ver sua boca que eu perco o juízo por inteiro,
Sentimento verdadeiro eu e você ao som de Janelle Monáe,
Vem, deixa acontecer
E dia 23 de novembro chegou mais rápido do
que eu esperava. Eu e meu marido levamos a Flávia ao neuro bastante otimistas,
mas sempre com aquele frio na barriga. Chegamos ao consultório, e o nosso
querido médico conversou conosco sobre a evolução da Flávia. Fez diversas
perguntas e, em seguida, começou a examinar e brincar com ela. Nos sentamos
novamente na mesa e ele nos disse: “Bom,
não preciso falar nada, certo?”. Eu e meu marido olhamos um para o outro na
hora e respondemos: “CLARO que precisa!”
hahaha. Tínhamos entendido que eram boas notícias, mas queríamos ouvir com
todas as letras.
Ele falou que ela não tinha nada, mais
nenhum sinal. Deixou claro que nunca iríamos saber se ela não estava no
espectro ou se estava (de forma leve) e a intervenção precoce ajudou a
reverter. Eu tenho certeza que a intervenção precoce foi o que mudou o diagnóstico
da minha filha. Ela tinha alguns comportamentos muito típicos que sumiram.
Me abraça que o tempo não passa quando cê está perto,
Dá a mão e vem comigo que eu vejo como eu estou certo,
Eu digo que te amo cê pede algo impossível,
Levanta da sua cama hoje o céu está incrível.
E aí vem a parte mais linda de tudo isso. Eu
me envolvi com muitas mães especiais, mergulhei nesse mundo de cabeça e de
peito aberto. E minha vida mudou com tudo isso. Mudei a forma de ver o mundo,
mudei a forma de observar pessoas, aprendi a não julgar, aprendi a conhecer,
aprendi a lidar com pessoas especiais, descobri um mundo lindo de pessoas que
se ajudam e apoiam e que me fizeram acreditar na humanidade novamente.
Tem muita gente preconceituosa e horrível
nesse mundo. Mas tem muita gente maravilhosa, generosa e disposta a ajudar
também. Descobri, também, o que é o amor incondicional de mãe de verdade, que
ama MAIS e MAIS a cada dificuldade, que só pensa na felicidade do filho, que se
preocupa com as dificuldades que ele vai ter que enfrentar e que está disposta
a mudar o mundo para que tudo fique mais fácil para ele. Hoje, quero retribuir
todo o carinho e amor que recebi nessa curta mas importante jornada. Espero poder
fazer por outras mães o que a Valéria, meu marido, minha mãe, meu pai, meus
avós, os médicos da Clínica da Familia, as terapeutas, e meus amigos fizeram
por mim! E ajudar a deixar o mundo melhor para os nossos filhos!
Por fim queria agradecer MUITO a Valéria
por todo o apoio e carinho em todo o processo! Fez toda a diferença na minha
vida! Obrigada de coração!
Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí,
E para te ver sorrir eu posso colorir o céu de outra cor,
Eu só quero amar você,
E quando amanhecer eu quero acordar
Do seu lado.
* Os cadastrados tiveram seus nomes alterados para preservar a sua integridade.
* Musica citada: Vagalumes - Pollo (Part. Especial Ivo Mozart)
Agente Comunitária de Saúde Valéria Carvalho
Email: equipeteles@gmail.com
Nesta História foi usado Nome fictício e as fotos é mera ilustração,para preservar a imagem do Cadastrado.
Obrigado a todos.