O Abscesso, por definição, constitui-se de coleção de pus na derme e tecidos profundos adjacentes.
O furúnculo consiste na infecção de um folículo piloso, com material purulento se estendendo até as camadas mais profundas de derme e do tecido subcutâneo. O carbúnculo nada mais é do que a coalescência dos folículos severamente inflamados, resultando numa massa inflamatória com drenagem de secreção purulenta pelos vários orifícios.
Os Abscessos de pele, furúnculos e carbúnculos podem se desenvolver em pessoas hígidas, sem outras condições predisponentes, a não ser portar na pele ou na cavidade nasal o Staphylococcus aureus.
Fatores de riscos incluem a presença de Diabetes mellitus e alterações imunológicas. Qualquer processo que resulta na quebra de solução de continuidade da pele ou alterações dermatológicas como traumas
abrasivos, escarificações ou picaduras de insetos pode resultar na formação de um abscesso.
Manifestações clínicas
Geralmente há sinais flogísticos locais como calor, rubor, edema e dor, além de nódulos eritematosos
com sinais de flutuação. Pode ocorrer drenagem espontânea de secreção purulenta e adenopatia
regional. Febre, calafrios, sinais de toxicidade sistêmica são incomuns.
Furúnculos e carbúnculos se apresentam em áreas que contêm folículos pilosos que são expostos à
fricção e perspiração, destacando-se a porção posterior do pescoço, face, axila e região da barba, nos
Diagnósticos diferenciais:
Foliculite, hidradenite supurativa, miíase, leishmaniose, blastomicose.
Indicações:
O tratamento de escolha para o abscesso, independentemente da localização, consiste na drenagem cirúrgica, para eliminar a dor e resolver o processo infeccioso. Atentar para locais especiais como face, principalmente para o triângulo formado pelo nariz e pela extremidade do lábio, pela facilidade de
desenvolver flebite séptica e promover extensão para a região intracraniana, por meio do seio cavernoso.
Faz-se necessário o uso de antibiótico associado e, às vezes, de avaliação de um cirurgião.
Outro local que merece atenção especial é a região perianal. A drenagem nesse local se faz com
urgência, não se espera apresentar sinal de flutuação, pois o risco de promover fasceíte necrotizante
(síndrome de Fournier) é elevado. Na dúvida quanto ao diagnóstico, encaminhe com urgência para a
avaliação de um cirurgião
.
Contra-indicações
Nenhuma.
Materiais necessários para a realização do procedimento
• Solução de iodopovidina tópico ou clorexidina.
• Lidocaína 1% sem vasoconstrictor para anestesia local.
• Campos estéreis.
• Material para o procedimento: pinça hemostática curva.
• Lâmina de bisturi nº 11.
• Soro fisiológico para irrigação.
• Gaze.
• Dreno de Penrose.
• Fio de sutura nylon 3.0.
• Luva esterilizada.
• Seringa de 5 ml.
• Agulha 40 x 12 (rosa).
• Agulha hipodérmica (de insulina).
• Swab de cultura, se necessário.
• Máscara e óculos para proteção.
Técnica
1. Explique o procedimento ao paciente e obtenha autorização.
2. Verifique se o abscesso possui flutuação.
3. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara
e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópico disponível e cubra-a
com o campo estéril.
PROCEDIMENTOS
4. Usando a agulha 40 x 12, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 7-10 mg/kg). Troca-se a
agulha pela hipodérmica.
5. Introduza o anestésico numa técnica de bloqueio de campo regional. A anestesia deve
realizar-se aproximadamente a 1 cm do perímetro de maior sinal de flutuação, com o
cuidado de injetar no subcutâneo. Afinal, a anestesia é para a pele, para a confecção da
abertura, nada a mais.
6. Depois, continue a fazer o bloqueio de maneira linear, ao longo da linha de incisão
projetada, que deve ser longa.
7. Uma vez realizada a anestesia, faz-se uma incisão longa e profunda o suficiente ao longo
da linha da pele para promover a drenagem espontânea da secreção purulenta. Não
adianta fazer pequenas incisões, pois isso pode levar à recidiva dos abscessos
8. Depois da drenagem espontânea, evite espremer a pele circunjacente, pois pode
promover a proliferação da infecção para o tecido subcutâneo adjacente. Coloca-se a
pinça hemostática na cavidade, a fim de quebrar as loculações e liberar quaisquer bolsas
de material purulento residuais.
9. Irrigue a cavidade com soro fisiológico para limpeza do local.
10. Introduza uma gaze ou um dreno de Penrose no local, com 1 a 2 cm para fora da incisão,
para permitir drenagem adequada e impedir que a incisão fique selada. Se necessário,
pode ser fixado com um ponto simples frouxo de nylon 3.0.
11. Curativo com gaze.
Complicações:
• Recidiva do abscesso: se o tamanho da incisão não for grande o suficiente para drenagem
adequada; local não explorado completamente, deixadas áreas loculadas;
• Sangramento;
• Disseminação sistêmica da infecção: endocardites, osteomielites, formação de abscessos pleurais,
articulações etc.
Seguimento
• Pedir para o paciente retornar em um ou dois dias para remoção das gazes e do dreno, e para
verificação da ferida.
• Orientar para o paciente:
› Associar compressas mornas no local, durante 15 minutos, 4x ao dia, até melhora.
› Trocar os curativos diariamente.
› Ficar alerta para sinais de infecção sistêmica.
• A antibioticoterapia está indicada se houver celulite coexistente, se o paciente for
imunocomprometido ou tiver um corpo estranho (enxerto vascular, telas, cateteres e válvulas).
• Se necessário, os antibióticos utilizados são: penicilinas, cefalosporinas de 1ª geração e quinolonas
(nível ambulatorial).
• Podem-se associar analgésicos e anti-inflamatórios para a dor pós-drenagem.
Observações importantes
• A incisão deve cicatrizar entre 7 e 10 dias.
• Incisão com drenagem apenas é a terapia adequada para um abscesso subcutâneo simples
Fonte: Ministério da saúde. caderno de atenção básica, 30. Procedimentos